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quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Fui criada como galinha e só descobri hoje!

Venho de uma família prolixa; de irmãos que contam causos pausadamente, que não perdem a paciência de conversar o mesmo assunto por horas...

Como a cultura familiar é determinante sobre alguns aspectos pessoais, eu não fugi a regra. Contava causos para os amigos, a cada tema, uma verdadeira redação! Até que conheci uma moça, canceriana, que tinha orgulho em me dizer que era cavalo de fogo no horóscopo chines; o que eu nem fazia ideia o que significava e que me disse em meio a uma crise existencial minha, acompanhada de uma confidência que, ela, alcoolizada, gritou: "Ah! Não sou obrigada a ouvir seus problemas! Por que não procura um analista?" - fiquei em estado de choque! num primeiro momento, totalmente impactada pela grosseria e falta de educação e depois de respirar bem fundo e dar a Cesar o que é de Cesar, pensei...: "Bem, direito dela não querer me ouvir! Não precisava este show de tosquitude rsss, mas, é um direito!" - dali para frente sempre pensei que tinha assunto demais, histórias demais, descobertas demais que queria repartir com alguém.

Recentemente, quando cheguei da minha analista, esquecida da lição acima citada e fui dividir uma confidência com uma pessoa com quem tive um relacionamento íntimo e ouvi quase a mesma coisa! Resolvi não mais passar por isto, deixar de ser chata e parar de confidenciar coisas com pessoas. Quase cantei: "...de hoje em diante vou modificar o meu modo de vida..." 

Mas como não sei nem se alguém vai ler isto, vou dizer... descobri que sou uma águia que foi criada como galinha! Não entendeu? segue a fábula:

"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro, a fim de mantê-lo cativo em casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. 
Colocou-o no galinheiro junto às galinhas. Cresceu como uma galinha. 
Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista.
Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista: 
- Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia. 
- De fato, disse o homem.- É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais águia. É uma galinha como as outras. 
- Não, retrucou o naturalista.- Ela é e será sempre uma águia. Este coração a fará um dia voar às alturas. 
- Não, insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia. 
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e, desafiando-a, disse: 
- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe! 
A águia ficou sentada sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. 
 O camponês comentou: 
- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha! 
- Não, tornou a insistir o naturalista. - Ela é uma águia. E uma águia sempre será uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã. 
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. 
Sussurrou-lhe: 
- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe! 
Mas, quando a águia viu lá embaixo as galinhas ciscando o chão, pulou e foi parar junto delas. 
O camponês sorriu e voltou a carga: 
- Eu havia lhe dito, ela virou galinha! 
- Não, respondeu firmemente o naturalista. - Ela é águia e possui sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar. 
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a  águia, levaram-na para o alto de uma montanha. O sol estava nascendo e dourava os picos das montanhas. 
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: 
- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe! 
A águia olhou ao redor. Tremia, como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então, o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, de sorte que seus olhos pudessem se encher de claridade e ganhar as dimensões do vasto horizonte. 
Foi quando ela abriu suas potentes asas. 
Ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto e voar cada vez mais para o alto. 
Voou. E nunca mais retornou." 
Existem pessoas que nos fazem pensar como galinhas. E ainda até pensamos que somos efetivamente galinhas. Porém é preciso ser águia. Abrir as asas e voar. Voar como as águias. E jamais se contentar com os grãos que jogam aos pés para ciscar.”   
Extraído de artigo publicado pela Folha de São Paulo, por Leonardo Boff, teólogo, escritor e professor de ética da UERJ  

Então, justamente na hora em que comecei a contar sobre "a montanha" ela me ceifou! Chega! Minha analista será minha amiga de infância! Afinal ela ganha para isto né? 

Beijão!

Um comentário:

  1. Muito bom! Que visão profunda!
    Eu não sou analista! hehehe mas tô aqui ó!

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